Cyndi Lauper, que agora incursiona pelo blues: unusual desde seu início, na década de 80 |
Aos 57 anos, a cantora acumula mais de 25 milhões de discos vendidos, 13 prêmios Grammy (o maior e mais importante da indústria fonográfica mundial), dois Emmy Awards (principal prêmio da televisão mundial), dois American Music Awards (uma das maiores premiações anuais da música norte-americana), sete American Video Awards e 18 prêmios MTV. No momento, Cyndi escreve uma autobiografia, que será lançada em 2011, um musical para a Broadway (baseado na comédia cult Fábrica de sonhos, de Julian Jarrold, 2005), e vai estrelar um reality show junto com o filho Declyn, de 12 anos, e o marido, o ator David Thornton, de 57 anos – mesma idade de Cyndi. O programa – a que ela se refere como “a comédia de nossas vidas” – será gravado na residência dos Lauper, em Nova York, e deverá ir ao ar nos EUA apenas no ano que vem.
Como se tudo fosse muito pouco, a incansável estrela ainda viaja de ônibus pelos EUA com a Memphis Blues Tour. Louca para trazer sua turnê ao Brasil – sua última vinda foi em 2008, com a turnê do disco Bring ya to the brink, ocasião em que se deslumbrou com as esculturas do Parque Ibirapuera e até nadou na praia do Guarujá. “Devo dizer que amei o seu país! Vejo aquela época como algo que nunca tinha vivido antes. Adoraria aprender o português, até comprei um livro-áudio para me ajudar, mas é tão difícil!”, desabafa. Veja o que mais a Cyndi disse a TOP, pelo celular:
TOP – Você é uma figura permanente na mídia. Como se projeta para se manter em um cenário em que figuras e ícones desaparecem de uma hora pra outra?
Cyndi Lauper – Não sei. Reconheço que existem imagens fortes, que tentam levar isso a cabo e começam de qualquer maneira, e acabam se tornando quem são. A imagem na mídia é como uma pintura, enquanto que na música é como uma fotografia. Sempre me vi como uma fotografia de Cindy Sherman [fotógrafa norte-americana famosa por fazer retratos conceituais]. Você pega a foto e ela é a própria foto, sabe? Você tem que descobrir com o que essa imagem se parece. Em seguida, você a personifica. E quando está naquele momento em que já aprendeu o que precisa, você se move para encontrar o resto que ainda precisa aprender. Ou seja lá o que for que te inspire...
TOP – Como define seu papel social na cena moderna? Você se considera ainda um ícone pós-moderno?
Cyndi – Não é meu trabalho julgar a mim mesma, mas apenas manter um canal aberto; é o que tento fazer. Sempre vivi deste modo e acho que é a única maneira de progredir. Você não pode ser o terceiro olho, porque ele é a morte para o artista, pois o transforma em um ser autoconsciente. Você pode apenas olhar o que quer e incorporar o que quer. É uma dança, em certo sentido. Mas você não pode julgar a si mesma, senão vai sempre pensar que não é boa o suficiente. Tem que continuar o trabalho e manter o canal aberto.
TOP – Você já flertou com o new-wave, pop, rock, dance, techno, está escrevendo um musical para a Broadway e agora aventura-se no blues. Poderia falar sobre esse seu poder de se reinventar musicalmente?
Cyndi – Acredito que como artista você quer crescer e fazer todos os tipos de música. Como músicos nós somos fãs de todo os estilos musicais. O blues é a base de tudo o que eu fiz ao longo desses anos, de modo que foi ótimo poder voltar ao início [da carreira].
TOP – Como ícone desde os anos 80, você continua influenciando. Madonna foi uma das que usou na carreira dela muita coisa vinda de sua música. Lady Gaga é uma grande fã sua também. Como se sente sendo fonte de inspiração para tanta gente?
Cyndi – Eu não penso sobre isso. Acho que todas as pessoas tiram um pouco umas das outras. Nós somos sempre inspiradas por diferentes pessoas. Todos os músicos escutam outros músicos, e sempre que você ouve algo que sente em seu coração, que toca você, é uma coisa natural. No fim das contas eu acho que todos nós nos inspiramos mutuamente.
TOP – Que músicos você tem ouvido ultimamente?
Cyndi – Bem, eu tenho ouvido blues e estou procurando por coisas antigas, já que é o que estou fazendo ultimamente. Estou ouvindo basicamente gravações raras e coisas que ninguém mais deve ter ouvido. Estou em turnê com Charlie Musselwhite, e ele tem me enviado coisas raras de Muddy Waters, e tem sido maravilhoso!
TOP – Você está escrevendo uma autobiografia. Estaria expressando nela pensamentos que não conseguiria por meio da música?
Cyndi – Sim, eu acredito que se não podemos expressar algo por meio da música, então precisamos de outro canal. Às vezes atuando, outras fotografando, ou ainda escrevendo. Colocar no papel, pura e simplesmente.
TOP – Por que decidiu escrever esse livro e qual o significado dele para você?
Cyndi – Bem, eu estava escrevendo algumas histórias e alguém disse que eu deveria por tudo aquilo em um livro. Então enviei à editora algumas amostras de coisas que eu usei no meu blog e eles gostaram de meus escritos. É apenas uma jornada, minha vida da forma como eu a recordo. Principalmente da época em que saí de casa quando criança e o caminho em direção a quem eu sou hoje.
Acima, figurinos da divulgação do novo álbum se reinventam, como a cantora: “Eu não vivo nos anos 80!” |
TOP – E quem é a Cyndi hoje?
Cyndi – Bem, eu acho que os tempos estão mudando e os artistas precisam acompanhar isso. Você não pode ficar preso pelas conformidades de uma grande corporação. Ora, se você precisa fazer sua arte, você precisa fazer sua arte! Certamente nós trabalhamos com as corporações, elas têm a distribuição e há muita coisa boa que elas podem fazer. Mas eu preciso ser mestre de meu próprio universo! Corporações são boas para te emprestar dinheiro e você fazer o seu trabalho, mas em relação à tomada de decisões criativas, eu acho que elas não são tão confiantes a esse respeito, porque são gigantescas e fazer outras coisas. Artistas precisam manter as vias abertas e em estado criativo. Criar, criar e não parar. Você precisa viver e respirar tudo isso.
TOP – Por que rompeu com a Sony [o último CD saiu pelo selo carioca Lab 344] e até que ponto tolera a interferência de uma gravadora em seus álbuns?
Cyndi – Eu fiz o que eu tinha que fazer e, de qualquer modo, eles não entenderam quem eu era. Nós fizemos vários
trabalhos juntos [nove dos seus onze álbuns saíram pela Sony] e obtivemos sucesso em algumas coisas, mas eu tinha que seguir em frente fazendo o que eu tinha vontade, sem ter que ficar pedindo permissão. Na verdade, eu não alimento sentimentos ruins. Eu só acho que estar associada a essas marcas está um pouco arcaico, não representa novas tendências. As coisas vão acontecer de uma nova maneira, esta nova fórmula de gravação realmente não inclui esse velho tipo paleozóico de companhia.
Cyndi, aos 57 anos: versátil |
TOP – O que a levou a participar do reality show The Celebrity Apprentice?
Cyndi – Bem, eu queria fazer algo diferente naquele momento, fiquei amiga de algumas pessoas e de repente me vi fazendo aquele reality show [exibido nos EUA no início do ano]. Mas eu gostaria de fazer um show que tivesse algum humor, e o próximo reality show do qual vou participar [irá ao ar em 2011 nos EUA] vai ser engraçado, além de ser uma experiência baseada na realidade.
TOP – Gostaria que você listasse os pontos decisivos da sua carreira.
Cyndi – Bem, nos anos 90 eu me casei e comecei a fazer música que adorava [em 1993 ela lançou Hat full of stars], e não apenas tocar qualquer cover. Foi um grande passo, porque a gravadora [Sony] me prometia o tempo inteiro “faça isso e aquilo, e depois não terá mais que fazer”, e não era verdade. Quando fiquei um mês sem trabalho foi um choque para eles e para mim. Melhor para mim, porque comecei a aprender a retomar a voz de minha própria poesia, foi assim na música Time after time [clássico dos anos 80 composto por Cyndi e Rob Hyman]. Mas melhor mesmo era poder falar no ritmo de minha própria linguagem. Porque muito do que eu fazia antes era interpretação, aprender harmonizar músicas de outras pessoas, achar minha própria voz dentro de uma canção. E você sabe, interpretar e harmonizar tornou-se um ponto muito forte para mim, mas eu tinha deixado minha própria música de lado e eu quis retomá-la.
TOP – O que você destacaria no novo álbum, Memphis Blues?
Cyndi – Eu procurei por canções que refletissem a época em que vivemos. Músicas que tinham histórias sobre a humanidade, sobre o espírito dela, para ser uma exaltação. E a melhor coisa a respeito do blues é que ele é honesto. Foi escrito por pessoas oprimidas e sempre tinham o espírito na música que os reerguia. Acredito que esse tipo de música tem um poder especial próprio. O blues é algo especial, é a base de tudo o que ouvimos na América. E a versão brasileira do álbum tem uma faixa [Don´t want to cry] que só foi lançada aí, com a participação de um maravilhoso artista brasileiro [o saxofonista Leo Gandelman].
TOP – Você pretende gravar um DVD dessa turnê?
Cyndi – Sim, vamos gravar um DVD no fim do outono. Acho que vai ser em Memphis.
TOP – E vai voltar ao Brasil neste ano? O que os brasileiros podem esperar de Memphis Blues Tour?
Cyndi – Eu não sei, mas eu adoraria! Será uma turnê de blues, com músicos realmente de blues e não roqueiros tocando canções de blues, e isso faz diferença. É muito especial. Durante os shows dessa turnê, às vezes preciso me beliscar, pois imergimos em um nível tão profundo... É tão maravilhoso! Do momento atual eu nunca vou me esquecer. Aguardamos com muito interesse a realização desta turnê no Brasil, mas eu ainda não sei o que vai acontecer.
TOP – Onde está você neste exato momento?
Cyndi – Estou em um ônibus, no caminho para... Eu não sei. Para algum lugar no norte, eu acho que Napa Valley...
Acima, imagem de divulgação do novo álbum, Memphis blues – que, na versão brasileira, ganhou uma faixa exclusiva, com a participação do saxofonista Leo Gandelman |
Fonte: Top Magazine/Melissa Lenz: Aqui!
Capa da revista Top Magazine, edição setembro de 2010, nas bancas!
cara a mulher é maravilhosa é simplismente Cyndi sem + o ke comentar abalo!!!linda matéria valeu!!!
ResponderExcluirCyndi Lauper é verdadeira ao extremo e seu amor pela arte inebria todos que caem de amores pelo seu trabalho. Creio que ela poderia estar com suas músicas bombando nas rádios, mas todos sabemos como a indústria funciona e ela mais ainda sabe que caminhos deve trilhar, não só pra fazer sua arte e ser sucesso, mas como alcançar a felicidade com seu ofício. Amo!
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